O que é um bom trabalho de Figurino em um filme?

Em época de Oscar, é comum pensar que os melhores figurinos são aqueles que ajudam a reconstruir modas ou tendências de décadas/séculos passados, o que é uma visão um tanto superficial. O bom figurino pode representar um estado emocional e ilustrar arcos dramáticos. O que importa, de fato, dentro de uma visão de figurino são as cores e as texturas das roupas associadas ao contexto de cada cena dentro de um filme.

Considerando tudo isso, hoje gostaria apenas de apresentar alguns exemplos daquilo que considero um bom trabalho de figurino na Sétima Arte.

Em Tenet (2020), de Christopher Nolan, a personagem Kat usa roupas com cores mais escuras nos dois primeiros terços do filme. Afinal, quando conhecemos a personagem, descobrimos que ela é explorada pelo marido e principal vilão da história, Andrei Sator.


Ao final, quando ela consegue se desvencilhar de Sator, ela aparece usando roupas com tons mais claros (sugerindo a leveza de poder viver o resto da vida com o filho sem grandes riscos e preocupações).



Em Rua Cloverfield, 10 (2016), a protagonista Michelle só troca de camiseta quando começa a confiar em Howard (ele diz que a camiseta com a estampa de Paris pertencia à sua suposta falecida filha).

Porém, quando Michelle descobre a verdade sobre Howard, ela volta a usar a roupa do início do filme.


Um último exemplo: o vestido vermelho de Kay em O Poderoso Chefão (I e II). Durante o primeiro filme, Kay aparece inúmeras vezes usando o vestido.

Ela eventualmente se casa com Michael. Contudo, Michael acaba mergulhando de cabeça nos negócios da Família, e o último plano do primeiro filme da trilogia ilustra com maestria como Kay seria inevitavelmente trocada pelos interesses financeiros ilícitos de Michael e dos Corleone.

Quando o segundo filme da trilogia se inicia, logo percebe-se que o casamento entre Michael e Kay não vai bem. Ela, claro, deixa de usar vestimentas vermelhas durante esse período do relacionamento deles.

Para enfim, quando está prestes a pedir o divórcio para Michael, Kay aparece costurando o vestido vermelho do filme anterior. A ação de Kay com o vestido traz à tona (através da imagem apenas, sem precisar de diálogo algum) tudo o que ela queria ter de volta em sua vida, e como Michael passou a ser um empecilho para ela.

É belíssimo quando um simples gesto de recuperar (ou restaurar) uma roupa antiga comunica sentimentos profundos assim, não?

***

Se você, caro leitor, tiver mais exemplos de bons figurinos na História do Cinema, coloque nos comentários, por favor. Gostaria muito de descobrir mais exemplares geniais do uso de vestimentas para se contar uma história.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mememory

HUNTER AND PREY (a PREDATOR movie)

Sobre Mank e manipulação